terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A Forma da Água


Olá, querd@s!

Estamos chegando perto da mais badalada festa do cinema hollywoodiano e este ano confesso que está dificil eleger um favorito porque esta safra está incrivel e diversa.  A partir desta semana eu vou trazer aqui alguns indicados ao Oscar de melhor filme, para conversarmos sobre alguns pontos relevantes, de preferencia aqueles mais sutis, que tangenciam as narrativas, que se insinuam...

Mas antes eu quero aproveitar a oportunidade para relembrar o ganhador do Oscar de melhor filme do ano passado, porque ele é desses filmes que rompem a fronteira do entretenimento de sábado de tarde e se constituem em legítima experiência.

(fonte: https://wp.ufpel.edu.br/empauta/files/2018/02/AFormaAguacartaz.jpg)

Hollywood conhece (e reconhece) outras construções do olhar e da experiência do cinema e A Forma da Água (Guilhermo Del Toro, 2017) é um ótimo exemplo. Com treze indicações ao Oscar 2018 e ganhador de 4 (incluindo melhor filme e melhor diretor).

Perpassado pelo silêncio expressivo da protagonista muda, A Forma da Água nos mostra através das conversas entre Eliza e seu rabugento vizinho o quanto nossas falas podem ser vazias de sentido, desenecessárias, ruidosas ou inconvenientes. É o silêncio de Eliza que denuncia a superficialidade das queixas de seu interlocutor.

E é no silêncio que a moça se apaixona e se relaciona: um silêncio cheio de diálogos e emoções. Isso me faz lembrar o escritor David Le Breton, que em "Do silêncio" nos chama atenção que silêncio não é ausência de som, mas ausência de ruídos, ou seja, de sons que de alguma maneira nos agridem. E é no amor e no silêncio que Elisa nos ensina a importancia de desenvolver e exercitar constantemente a capacidade de realmente enxergar as pessoas à nossa volta. E escutá-las. Mesmo no seu silêncio.

Outro ponto que quero destacar deste filme é a forma como ele trabalhou o corpo feminino. Estivemos diante da história de amor que faz uma delicada homenagem ao cinema e traz a sexualidade feminina despida de erotismos ou construções masculinas nos olhares da câmera.





A Forma da Água conseguiu fazer do nu frontal de Elisa (Sally Hawkins) e da masturbação cenas cotidianas, simples e ao mesmo tempo carregadas de significado, desdobrando a rotina solitária e repetitiva da protagonista. A sexualidade da personagem surge de forma orgânica, constituindo-se mais um elemento da narrativa. Não existe finalidade de despertar o desejo por meio da exposição do corpo de Elisa, mas sim naturalizar a sua sexualidade.



O relógio da pia em primeiro plano no fim da cena nos lembra que Elisa está fazendo a banheira mais uma de suas atividades diárias. Entra deixa o relógio na pia com o timer marcado, ou seja, o que ela está fazendo tem hora para terminar. De fato, vemos que ela se arruma, depois cumprimenta o vizinho e segue para o trabalho. A cena nos mostra a nudez da protagonista e a masturbação como uma atividade tão cotidiana quanto fazer uma refeição ou irão trabalho.



Elisa é, assim, uma personagem extraordinária: o corpo magro, pequeno e silencioso manifesta sua força e determinação durante o percurso da narrativa e nos encanta pela delicadeza firme com que se move, dança e corre em busca do amor. Ela segue, conquistadora, e nos deixa com a lembrança e a lição eloquente de um silêncio sincero.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

De volta, e com "Rebecca"

Olá, querid@s! Estou de volta neste começo de 2019 e com pretensões que produzir mais conteudo e ficar mais tempo por aqui. Toda essa ausencia se deu porque eu estive participando de um seleção para um curso de doutorado, e passei, o que é incrivel! Então vieram as eleições e tudo ficou meio confuso e dificil... (Não que agora esteja fácil, maaaaas... A gente recupera o fôlego e prossegue, né?)

Hoje deixo vocês com uma pérola de Alfred Hitchcock, a minha preferida, na realidade. Você encontra esse filme completo no youtube, legendando (talvez tenha dublado também, não tenho certeza).


Eternizado como mestre do suspende, Alfred Hitchcock deixou cerca de 60 obras fílmicas. Seu nome e filmografia são conhecidos, respeitados e admirados entre cinéfilos e estudiosos de cinema em todo o mundo. Aulas, palestras e seminários utilizam cenas de suas obras  para discorrer sobre os elementos da linguagem cinematográfica clássica.

Rebecca, uma mulher inesquecível (1940)

Rebecca é um dos filmes mais intrigantes de Hitchcock, baseado no romance inglês homônimo de Daphne du Maurier, que foi publicado em 1938. É uma obra fílmica extraordinária pelo atravessamento de uma personagem cuja ausência física garante a presença mais intensa. Mais da metade da trama acontece na imensa propriedade que expõem as marcas, os traços e pertences desta fascinante e controversa mulher.

Aqui vemos uma forma muito interessante de se trabalhar o paradoxo da “presença da falta”. Ou seja, o elemento ausente no filme, é, na realidade, o mais presente, e aquele do qual mais se fala. E para ressaltar isso, temos uma garota que se casa com Maxim Winter, o viúvo de Rebecca, mas que não tem nome. A garota se muda com o marido para a referida propriedade, como a nova e legítima Senhora da casa, mas ninguém sabe o seu nome, nem mesmo o espectador. Vale ressaltar que o nome é um elemento muito importante em psicanálise, pois ele é basicamente a primeira inscrição que recebemos ao nascer (muitas vezes antes, ainda no ventre materno).

Para a jovem Sra. de Winter, Rebecca não era apenas uma mulher; ela era a mulher. Se, por um lado, a moça enxergava-se como a imagem simétrica e invertida da ex-esposa de Maxim, por outro, almejava ser como ela. Essa especularidade é particularmente nítida no jogo que Hitchcock estabelece entre os quartos das duas mulheres. Enquanto o da jovem esposa situa-se na ala leste e quase nunca era usado, o da ex-mulher fica na ala oeste e não o é mais. Além disso, o quarto de Rebecca, nas palavras da Sra. Danvers, é o “mais bonito da casa, o único de onde se pode ver o mar”. E essa sala de espelhos tem outro ângulo, ainda mais inusitado. Enquanto a câmera foca a jovem Sra. de Winter ao longo de quase todo o filme, seu nome nunca é dito. Ela permanece anônima. Em contrapartida, jamais vemos imagens de Rebecca, mas ela é falada o tempo todo (WEINMANN, 2016, p. 63).


A memória de Rebecca parece também perturbar Maxim, o viúvo recém-casado, mas enquanto a garota se sente incomodada, insegura e nervosa, o homem parece carregar um grande pesar no olhar, algo de angústia e de culpa, que aos poucos vamos compreendendo. Quando o corpo de Rebecca aparece preso a uma embarcação naufragada a trama ganha novo ritmo e a jovem Sra. Winter começa a se apropriar da função de mulher e de esposa que recebeu em seu matrimônio. 


Há publicações que afirmam que Hitchcock criticava a psicanálise em suas obras fílmicas, mas parece muito mais que o diretor utilizava este conhecimento teórico (o qual, em seus filmes, ele demonstrava ter uma leitura considerável) como material e, em alguns casos, este material se manifestava de maneira debochada. Em outros, constituía um mote para engendrados e densos enredos de mistério e suspense (caso de Rebecca).

Com relação ao deboche, fenômeno semelhante acontecia com as figuras de autoridade em seus filmes (policiais e médicos, especialmente), que comumente manifestavam brutalidade, inocência, ou mesmo caráter duvidoso, assim como as personagens financeiramente mais abastadas. Vale ressaltar que a predominância de tais tipos era masculina... 

O mestre do suspense colocava estas figuras de autoridade em situações embaraçosas ou constrangedoras: a polícia nunca descobria o assassino, e o médico geralmente era o culpado, dava diagnósticos errados, ou enganava pessoas se aproveitando da credibilidade da profissão. É possível que ele também gostasse de “constranger” a psicanálise, refazê-la de modo pasteurizado, como uma tradução daquilo que o público leigo a compreendia. 

Talvez Hitchcock também gostasse de brincar com a ideia que a psicanálise traz, de que não somos completamente donos de nossas escolhas, que existe uma instância poderosa a qual não temos acesso, e que luta para satisfazer desejos que não compreendemos. 
Mas que é parte de nós. E fala por nós. Mesmo quando tentamos silenciar.


Referencias e sugestões de leituras

WEINMANN, Amadeu de Oliveira. A enunciação da feminilidade em Rebecca, de Hitchcock. Trivium-Estudos Interdisciplinares, v. 8, n. 1, p. 60-73, 2016.
MACHADO, Arlindo. O sujeito na tela: modos de enunciação no cinema e no ciberespaço. Paulus, 2007.
MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica; tradução Paulo Neves; revisão técnica Sheila Schvartman. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2003.
SPOTO, Donald. Fascinado pela beleza: Alfred Hitchcock e suas atrizes. Trad. Mário Ribeiro e Sheila Mazzolenis. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008.


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Man of Steel: bem vindo de volta, Superman! (parte II)

Direção: Zack Snyder
Roteiro: Christopher Nolan e David S. Goyer
Elenco: Henry Cavill, Amy Adams, Michael Shannon, Kevin Costner, Diane Lane, Laurence Fishburne e Russell Crowe.



Na primeira parte deste post conversamos um pouco sobre o planeta Kripton de Man of Steel que trouxe algumas características novas e bem interessantes, como o militarismo e a reprodução artificial. Começamos a falar também sobre este Superman que nos vem, não tão afável quanto era Christopher Reeve mas passional, altivo e com referências a Jesus Cristo. Segue agora a segunda parte, dando continuidade a este aspecto divino do herói.

[ALERTA DE SPOILER]

  • Um deus do sol, da guerra e do amor


A referência a Jesus Cristo existe em muitas cenas, de maneiras diversas, inclusive na menção da idade de Clark (33 anos) ao se tornar Superman. Mas há uma cena bastante emblemática, em que Lois e Superman estão tentando fugir da nave de Zod com a ajuda do holograma/memória Jor-El.
Lois é cuspida por numa cápsula de fuga em queda livre, rumo à órbita da Terra e, em vias de salvá-la, Kal-El escuta de seu pai biológico: “Queríamos que você soubesse o que significava ser humano primeiro para que, um dia, no momento certo, você pudesse ser a ponte entre dois povos. Você pode salvar todos eles”.

A seguir, Superman sai da nave, em slow motion, para flutuar no espaço com os braços abertos, iluminado pelo sol, à semelhança da imagem do Cristo. Entra música extradiegética [1], que, somada à composição da cena, pareceu Jesus descendo dos céus. Isso me lembra que Superman é considerado um herói solar (ou apolíneo). É um desbravador, um viajante que traz luz e proteção. E que o próprio sol terrestre é causa dos seus poderes extraordinários.


A relação que se reconstruiu entre Zod e Kal-El ficou interessante, pois em Man of Steel Zod matou Jor-El, no entanto, em determinado momento, Zod se torna o único Kryptoniano vivo além do próprio Kal-El. Existe a rivalidade e a disputa de forças, já que Kal-El não apenas não colabora com os planos de Zod, mas se compromete a detê-los. Mas também parece haver em Kal-El o desejo por memórias pertencentes a Zod, de uma história que Superman, mesmo sendo o tema central, não viveu, e pouco conhece (e isso também pode ser uma viagem muito louca minha, não sei).

Zod foi “programado” desde o nascimento para proteger Krypton, daí sua obsessão em colonizar a Terra com matriz genética e repovoar o planeta com novos kryptonianos. Sem um planeta Krypton para proteger, a razão da existência de Zod se extingue, e ele jamais poderia fazer outra coisa porque ele é o que faz e não sabe ser outra coisa.

E aí é possível ver a humanidade naquele que não é humano, mas ama e protege pessoas tanto quanto o melhor de nós. E ele também sente, e chora. E escolheu os homens e o amor de uma mulher em detrimento ao povo de origem, com quem poderia governar a Terra e ser, de fato, um deus.

Superman mata Zod e, dentro do Universo Estendido, é quando ele mata alguém pela primeira vez. Ele mata o assassino de seu pai, mas mata também um Kryptoniano, como ele, e se torna mais órfão do nunca, pois agora tem a certeza de que é o último vivo de sua espécie. E ele grita. E ele chora. Chora nos braços de uma mulher.

Aliás, as mulheres da vida de Superman são um espetáculo à parte: de força e de amor. A começar por Lara, que ousou junto com Jor-El conceber um filho de forma natural, fora dos padrões regulamentados; e que sobreviveu com dignidade à trágica perda do marido e à definitiva despedida do único filho, ainda bebê (ao mesmo tempo...!).

A seguir somos apresentados a Martha, a mãe terrestre amorosa, que mesmo sem saber nada sobre kryptonianos, ensinou Clark a controlar seus poderes, a se concentrar em uma coisa apenas de cada vez... Ela sabia muito sobre amor. E finalmente temos Lois Lane, numa versão mais agradável e menos arrogante. Lois teria sido a primeira humana (com exceção dos pais adotivos de Clark) a acreditar na legitimidade das intenções de Superman em proteger a Terra.

O que decepciona?

Man of Steel é um espetáculo audiovisual extremamente atraente, impressionante e de narrativa bem encadeada.. .Até o fim do segundo ato. 2/3 do filme são incríveis, acompanhados de um terceiro ato (final) morno (ou moroso? Ou os dois? É difícil dizer).

É uma sequência longa e monótona de embates, e Kryptonianos sendo arremessados em prédios, ou arremessando outro Kryptoniano, ou tentando machucar civis... Até finalmente chegarmos ao duelo com Zod, que se resume a mais destruição e... Mais um pouco de coisas sendo arremessadas e destruídas.

O ato final, portanto, decepciona. Temos uma... tentativa, talvez, de recuperar o folego rumando para um fim bacana, mas já tarde demais, na ultima cena, que é pura nostalgia, e inclusive me emocionou, de Clark chegando para o seu primeiro dia do Planeta Diário.


Porém, Contudo, Não obstante, Todavia...

A morosidade do terceiro ato não tira o brilho e a grandiosidade desde filme. Man of Steel nos trouxe um herói digno de dar continuidade ao legado de Christopher Reeve, onde Kal-El, que se torna Superman e também Clark Kent, pôde escolher o caminho de não escolher. Isso porque ele é o deus Kryptoniano e o filho dos Kent, que trabalha no Planeta Diário. Superman é resultado da coexistência de ambos em um único ser. E este foi o legado mais importante deixado por Jor-El.

Kal-El: Por que não vieram comigo?
Jor-El: Não podíamos, Kal.Por mais que nós quiséssemos. Por mais que nós amássemos você. Sua mãe Lara e eu éramos frutos dos fracassos do nosso mundo, assim como Zod era.
Kal-El: Então eu estou sozinho?
Jor-El: Não. Você é uma criança da Terra tanto quanto de Krypton. Pode personificar o melhor dos dois mundos. (...) O símbolo da Casa de El significa "esperança". Essa esperança incorpora a crença fundamental no potencial de cada pessoa em se tornar uma força do bem. É o que você pode dar a eles.




[1] Dizemos que qualquer tipo de som é diegético ou extradiegético quando ele está diretamente inserido na história ou não. Por exemplo, se em um filme o personagem liga o rádio e uma música toca, dizemos que essa música é diegética, mas se uma trilha começa a tocar sem que nenhum personagem tenha feito isso acontecer, então a música é extradiegética, como na referida cena de Man of Steel.



terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Man of Steel: bem-vindo de volta, Superman! (parte I)


Direção: Zack Snyder
Roteiro: Christopher Nolan e David S. Goyer
Elenco: Henry Cavill, Amy Adams, Michael Shannon, Kevin Costner, Diane Lane, Laurence Fishburne e Russell Crowe


Desde que estreou Liga da Justiça (2017) venho pensando esses novos filmes DC, e então me lembrei de Man of Steel (Homem de Aço, 2013) e de como foi esperado, de como vibramos quando saiu o trailer oficial e... De como dividiu opiniões após a estreia.

Man of Steel não é apenas o tão esperado reboot da saga cinematográfica de Superman – ainda mais depois do fiasco de Superman, o Retorno (2006) – , ele também marca o início do Universo Estendido DC, que foi seguido das produções cinematográficas Batman vs Superman: Dawn of Justice (Batman x Superman: O Despertar da Justiça, 2016), Suicide Squad (Esquadrão Suicida, 2016), Wonder Woman (Mulher Maravilha, 2017) e Justice League (Liga da Justiça, 2017). E virá mais...

A impressão geral, ao menos no Brasil, é de que este Superman não atendeu às expectativas. Na realidade, entre críticas especializadas e público, houve quem amou, quem odiou, quem adorou alguns aspectos, mas outros nem tanto... As reações foram das mais diversas. Interessante como adaptações parecem ter essa capacidade de despertar diferentes e contraditórias respostas...

No entanto, a produção fez bons números: nos Estados Unidos arrecadou mais de 628 milhões de dólares. Só no Brasil ultrapassou a marca dos 125 milhões (de dólares!). Considerando que o orçamento foi de U$$ 225 milhões... Não está mal, não é?

Vamos falar um pouco sobre Man of Steel; e sobre este esperado retorno às origens. Esta é a primeira parte do post, que vai falar sobre a reinvenção de Krypton e o perfil deste Superman.


  • Krypton: o planeta do militarismo e da biotecnologia


Man of Steel reconta a origem de Kal –El e nos mostra um planeta Krypton extremamente avançado em tecnologias biológicas e militares, sofrendo ameaças de um golpe pelo oficial superior de Forças Armadas, o implacável General Zod, ao mesmo tempo em que sofre um grave problema de esgotamento de recursos naturais.

Você percebe um lugar um tanto escuro, mas bastante sofisticado e funcional, com uma tecnologia orgânica de ponta (os programas de computador são uma espécie de híbridos, como a base de reprodução kryptoniana, que parece um organismo vivo e autônomo) e grandes animais (alados e terrestres) como meio de transporte, parecidos com dinossauros, ou dragões sem escamas.

Somos então, no primeiro ato do filme, introduzidos a um planeta Krypton com recursos naturais exauridos, em vias de testemunhar a própria extinção e com autoridades políticas alienadas de si mesmas o bastante para decidirem não enxergar as implicações do que está por vir. E não fazer nada.

   

O único a compreender a gravidade da situação foi quem a descobriu: Jor-EL, representante da Casa de El (cujo símbolo estampado no peitoral do uniforme de Superman significa “esperança”).

Jor-EL e a esposa Lara conseguem enviar o bebê Kal-El para a Terra, mas antes de Lara ativar o lançamento da cápsula, Jor-El insere no corpo do filho o material do códex de Krypton, que contém toda a matriz genética do planeta (isso não é spoiler, eu acho; se for é só um pouquinho porque acontece bem no início do filme... né?).

Este ato de Jor-El torna o filho dotado de múltiplas possibilidades. Kal-El já era singular por ter sido o primeiro bebê kryptoniano concebido de forma natural em séculos. Agora ele torna-se também a personificação da ideia de que podemos ser o que quisermos, pois já temos a centelha do que queremos vir a ser. Com Kal-El, é selado o fim do sistema kryptoniano de reprodução programada de acordo com castas até então em vigor.

Man of Steel traz um questionamento interessante, semelhante ao do livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley (1932). Ambos trabalham as consequências da escolha de um povo em investir na reprodução artificial e programada como medida de controle de natalidade e busca de perfeição social, onde cada criança já nascia destinada a uma casta e função específicas.

Fico aqui imaginando: se Krypton era um planeta que valorizava tanto o poder cientifico quanto militar, seria ele uma metáfora da possibilidade de uma "Terra do Futuro"? (com direito a golpe militar e esgotamento de recursos naturais?).


  • Bem-vindo, Superman!

Kal-El na Terra se torna Clark, o filho adotivo de Jonathan e Martha Kent. Entra na vida adulta sem chamar atenções para si, mas as inserções de flashbacks nos mostram as dificuldades em esconder seus poderes e encontrar explicações sobre sua origem. 

E sendo um filme de origem, temos muito de Clark antes de se tornar Superman, viajando anônimo e desaparecendo em meio a ocupações comuns pelas cidades onde chega. As andanças de Clark são suas buscas por si mesmo, por evidências de seu planeta e de seu propósito.


Percebo a construção de um herói mais complexo e com conflitos internos mais bem desenhados. Percebo o herói impulsivo, desde criança manifestando o desejo de ajudar os outros sem importar-se com as consequências de ser exposto (era trabalho de Jonathan Kent lembrar-lhe disso). Mas vejo também o impulso da raiva diante de injustiças; a vontade de revidar, “dar o troco” naquele que o provoca em público gratuitamente. 

Então, já trajado com o uniforme de capa vermelha, ele parece não se preocupar muito com a destruição de toda uma cidade em meio aos (infindáveis...) confrontos com Zod e seus homens. É um traço do Superman que a gente pode verificar em algumas animações da Liga da Justiça e HQs, mas está sendo novidade no cinema.

Nesse ponto ocorre um distanciamento do imortal Superman (1978) personificado em Christopher Reeve, predominantemente doce, afável, equilibrado e sensato, do tipo que resgata o gatinho da vovó de do alto da árvore do quintal. 

Man of Steel traz um Superman mais próximo do deus, e de um deus bem singular, com traços de combate e militarismo kryptonianos e, ao mesmo tempo, imbuído de referências a Jesus Cristo, que é considerado um deus de amor e misericórdia.


(espera só um bocadinho que a parte II desse post vai sair daqui uns dias!)

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Um pouco sobre RITA

                               

Segunda feira, 08 de janeiro de 2018 foi o dia em que (só por dentro, porque eu estava um uma virose do inferno) dei uns 500 pulos de alegria. Minha querida Netflix notificou que a 4ª temporada de RITA vai estrear neste dia 15!
Se você conhece a RITA sabe muito bem o tamanho da minha alegria. Se você (ainda!) não conhece a RITA, deixa eu te falar um pouco sobre ela.

Quem é RITA?

RITA: Série dinamarquesa de  Christian Torpe, protagonizada por Mille Dinesen 

RITA me conquistou logo no piloto. E os motivos são muitos. Ela é linda, independente, inteligente, irreverente, complexa, contraditória, sarcástica, estúpida, imprevisível, corajosa, verdadeira, apaixonante e absurdamente humana.

É professora do Ensino Médio. É mãe divorciada de três filhos (mais conservadores do que ela). Fuma muito. Tem problemas com bebida. E com pessoas. Todas as pessoas que não são seus alunos. 
É a personagem dos sonhos de qualquer roteirista.

Rita e familiares: mãe, filhos e nora

A série dinamarquesa mostra o cotidiano de RITA no trabalho e na família; os desafios que estas duas instituições lhe trazem e as saídas nem um pouco convencionais que ela costuma encontrar. Nesse entremeio, os altos e baixos de sua vida amorosa ganham destaque.

RITA parece uma força da natureza. Ela quebra tudo o que é frágil, mas insiste em existir sem fundamento: padrões, normas, autoridades, hipocrisias, mas também consegue machucar as pessoas que ama quando falha em conter os ímpetos mais egoístas (e autodestrutivos). E isso acaba tornando-a ainda mais envolvente porque mostra que estamos acompanhando a jornada de uma heroína que, acima de tudo, é um ser humano cheio de falhas, e de força.


O que RITA nos traz?

O ambiente de trabalho de RITA é pano de fundo para abordar questões polêmicas de modo realista e sensível: bullying, preconceitos de raças, de condições econômicas, doença mental, aborto, drogas, aborto, relações de poder.

A câmera é ágil, quase na velocidade das falas. Estas por sua vez, são sem precisas. Os movimentos de câmera combinados com a clareza e naturalidade dos diálogos dão o ritmo da série, onde, no fim das contas, nada de muito extraordinário acontece, ao passo que inúmeras pequenas nuances de verdades humanas saltam ao nosso olhar, como tudo o que há de belo e temível nelas.

A luz é fria, mesmo de dia e em externas, o que dialoga com o distanciamento (muitas vezes adicionado de um humor negro) dispensado às questões mais delicadas, como traição ou homofobia. Óbvio (mas ainda assim interessante) que, em consequência, acaba criando compatibilidade com o clima predominante frio da Dinamarca.

Temos, então, uma atmosfera fria, distante e sarcástica entre os personagens que dialoga com o clima frio do lugar com em formato de crônica de costumes, com direito a alfinetadas certeiras, elegantes e providenciais a diversas convenções sociais impregnadas de valores machistas e conservadores.

Uma das críticas dessa natureza, e recorrente nos episódios, é em relação à intensa vida sexual de RITA. À personagem, é natural ir sozinha a um bar e abordar um homem que ela já sabe que não verá novamente. Por isso, a professora é considerada “vadia” por homens que praticam o mesmo hábito, inclusive aqueles que, na intenção de vê-la novamente, não sabem lidar com um ”não, obrigada, foi só essa vez, mesmo”. Rita é uma mulher empoderada, e não permite que ninguém a faça sentir vergonha disso.

Rita e os colegas de trabalho

Os outros personagens são igualmente bem construídos. A professora novata, jovem e idealista Hjørdis, que aos poucos se torna a amiga mais próxima e afetuosa, o diretor Rasmus, cuja inseguranças como profissional e amante criam disparidades diante da personalidade forte de Rita, o colega ex-diretor, de comportamento parecido com o dela, que a provoca e gera uma tensão que é gostosa de acompanhar, todo o casting da produção foi muito bem escolhido e tem sido muito dirigido com muita excelência, inclusive as crianças e adolescentes da escola, cujo desempenho não deve em nada aos mais experientes.

A abertura mostra Rita pegando um longo fio preto de lã e entrelaçando nos dedos das mãos, como numa brincadeira típica de crianças popularmente conhecida como “cama de gato”. A medida que Rita entrelaça os dedos na linha, imagens vão surgindo, representando os aspectos da vida de Rita “entrelaçados”, confundidos, forjados e desfeitos entre sua casa e seu trabalho (tem um caso com o diretor, o filho estuda na escola onde ela trabalha, chegou a se envolver com o pai de uma aluna...), até finalmente o longo fio forma as letras do seu nome.

Abertura de RITA

RITA inspira. É uma produção de dar gosto de assistir e falar sobre. É para deleite de olhos e ouvidos. E boca!

Então espero que você tenha oportunidade de conhecer RITA e, assim como eu, se apaixonar... 

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O humano da loucura

com a colaboração de Samara Ribeiro*


As patologias que acometem a psique humana são vistas como um grande mistério desde os primórdios da história da humanidade. A ciência conseguiu desmistificar uma série de fenômenos anteriormente atribuídos ao sobrenatural; no entanto, no que concerte às doenças mentais, existe ainda uma zona cinzenta, uma parte envolta de aspectos os quais os estudos de psiquiatria, psicopatologia e psicologia ainda não conseguem descortinar completamente.




No filme brasileiro Nise: O coração da loucura (Roberto Berliner, 2016) temos o duro embate entre a visão da psiquiatria tradicional e uma “psiquiatria humanista”, interessada em deslocar a problemática da loucura do campo da psicopatologia médica para o campo da subjetividade, da cultura e do social.

Mais interessado na metodologia de trabalho pioneira da Dra. Nise da Silveira do que propriamente em sua biografia, o filme não menciona os dois anos de prisão e quatro anos de afastamento do exercício da medicina. Durante a Intentona Comunista, Nise foi denunciada por uma enfermeira, por ter em posse livros marxistas. 


O início da narrativa ocorre após a saída de Nise da prisão e seu consequente retorno ao trabalho. A abertura, isenta de trilha sonora musical, traz um plano aberto, mostrando uma fachada e um portão envelhecidos e malcuidados do que depois vemos ser do Centro Psiquiátrico Engenho de Dentro de 1944. 

A protagonista, personificada na atriz Glória Pires, aparece diante da fachada e bate no portão. Como ninguém atende, ela bate novamente. Diante do repetido silêncio em resposta, a mulher esmurra o portão, quando finalmente ele é aberto. Esta é uma cena que, isenta de palavras e somente ao som das batidas de Nise, constroem metaforicamente o prenúncio de sua trajetória neste hospital: ela não será ouvida, ela será tratada com menosprezo, mas ela não irá se calar, e não irá desistir de provar a viabilidade de um tratamento digno, humano e isento de violência aos internos acometidos de severos tipos de esquizofrenia.

As explicações mágicas para doenças mentais não foram enterradas de maneira definitiva com nossa Pré-história. Elas persistem de maneiras mais ou menos ocultas. A figura do “louco” ainda é fortemente marcada pela visão de senso comum como um doente que com algo de nocivo dentro de si, e que precisa ser extirpado, seja mediante uso de medicamentos ou de inúmeras práticas que prometem resolver (quase que “magicamente”) seus problemas patogênicos.


                             

E no filme de Berliner isso é bem ilustrado logo na primeira cena, que dá sequência à abertura: Nise, recém-chegada no Centro Engenho de Dentro, acompanha uma conferência de psiquiatras, onde o expositor apresenta técnicas consideradas inovadoras de “cura” das doenças mentais que envolvem lobotomias e intervenções cirúrgicas cerebrais com a utilização de picadores de gelo. Estas técnicas prometiam cura através da retirada da “parte doente” do cérebro dos pacientes, que, após o procedimento cirúrgico estariam reabilitados a regressarem aos seus lares e possibilitados de se reinserirem no convívio social.

Vemos também a tendência iniciada na segunda metade do século XIX à supervalorização do saber médico. O lugar de “sujeito do saber” do psiquiatra nos é constantemente apresentado. Na mencionada conferência em que Nise adentra, vemos um público expectador composto por médicos, homens, todos trajados com seus jalecos brancos, vestimenta que nos comunica esse lugar de poder que a medicina ocupa (va?). Nise, no entanto, entra no auditório e participa da reunião sem o seu jaleco, como a informar em silêncio que não precisa ostentar a sua formação.

A ausência do jaleco de Nise também comunica uma relação de igualdade que ela estabelece com os internos, pois não a vemos trabalhando de jaleco dentro da instituição. O filme, portanto, dialoga de maneira crítica com esta realidade da medicina que se enxerga e se mostra como entidade detentora absoluta do saber. E desconstrói, a partir das ações de Nise, a validade desta forma engessada de pensar e tratar a doença mental. A protagonista promove o despojamento de estereótipos no cotidiano do seu atendimento: “eles não são pacientes; nós é que devemos ser pacientes com eles”.

No reconhecimento de vínculos afetivos entre os assistidos e deles com os cachorros que circulam no pátio do hospital psiquiátrico também vemos acontecer uma quebra de modelo segregador da loucura, pois Nise cria um movimento que segue, ao longo do filme, despindo os assistidos dos elementos que os isolam do mundo, das pessoas, da vida que acontece fora dos muros institucionais.

Esta ruptura com a banalização do encarceramento manicomial prossegue na cena (produzida com muita delicadeza, aliás) em que Nise oferece roupas aos internos e os incentiva a usá-las, ao invés dos camisolões sujos e encardidos. As roupas “normais” que Nise entrega representam todo um universo de possibilidades que se abre com o empenho desta psiquiatra em obter resultados concretos na implementação de um tratamento novo e diferenciado ao esquizofrênico.

Nise elabora este tratamento de maneira um tanto intuitiva, durante a sua prática, tendo as Artes Plásticas e a Psicologia Analítica de Jung como referência. Seu método vai se construindo ao longo de cada dia, na interação e observação dos internos nas produções com materiais de pintura durante a terapia ocupacional. Neste processo, ela segue considerando as demandas individuais dos internos, restituindo-lhes, um pouco a cada dia, a dignidade e autonomia que o encarceramento médico havia lhes extirpado.

Nise... é mais do que um convite, mas uma convocação à sociedade, especialmente aos profissionais de saúde mental, a pensarmos os métodos de tratamentos psiquiátricos de que dispomos. Apesar de retratar o Brasil dos anos de 1940, o filme nos lembra o quão ainda estamos próximos desta realidade histórica que segrega o doente mental e lhe aliena de seu direito de existir no mundo. Mostra também o quanto esta forma de pensar a doença mental está próxima daquele pensamento construído no distante (?) primórdio de nossa existência.

Nise da Silveira nos deixou uma lição que o filme muito poeticamente nos lembra: não é o psíquico que determina a relação do Homem com o mundo, mas é a relação do Homem com o mundo que, desde o primeiro instante, estabelece uma maneira de ser, uma certa subjetividade. Assim, todos nós temos algo de patológico, algo que precisa ser cuidado, e que não necessariamente precisa ser extirpado; mas talvez precise ser visto, ouvido e compreendido, ou pelo menos devidamente respeitado.





*A Samara Ribeiro é uma colega muito querida que cursou comigo a disciplina de psicopatologia geral neste semestre, da faculdade de psicologia. Este artigo foi adaptado de um trabalho que fizemos para esta disciplina.






segunda-feira, 2 de outubro de 2017

"The Good Place" e as polarizações do humano





Criada por Michael Schur

Com Kristen Bell e Ted Danson

Olá, queridxs!

Até agora venho trazendo aqui meus olhares sobre filmes não necessariamente Blockbusters e não necessariamente hollywoodianos e pretendo, futuramente, abrir mais ainda este leque no que concerne aos filmes estrangeiros (pensando em alguns... Sugestões? Só os do Almodóvar fariam uma lista de pirar os neurônios! Os filmes dele são muito conhecidos, mas acredito que há toda uma nova geração que ainda não teve o inquieto prazer de assistir esse material).

Mas o assunto de hoje não é o Almodóvar, não são filmes estrangeiros. São séries. Mais precisamente uma série que me chamou muito a atenção semana passada (tanto que já detonei a primeira temporada, sem pena). Porque foi aquela série que ninguém me recomendou, eu não estava procurando nada para escrever sobre, estava apenas procurando na Netflix o que assistir mesmo. Mas a mão coçou e pediu para que The Good Place ganhasse um post e inaugurasse as postagens sobre séries.

(Temos aqui quase nenhum spoiller, ok? Prometo. E é tudo coisa que aparece logo no piloto e no segundo episódio).

The Good Place foi/é produzida por Michael Schur e estreou pela NBC em setembro de 2016. No Brasil e em Portugal as temporadas 1 e 2 estrearam simultaneamente na Netflix neste dia 21 de setembro, com novos episódios semanalmente.

Depois que Eleonor Shellstrop (Kristen Bell) é atingida e morta por um reboque transportando um quadro de avisos com propaganda de produtos para disfunção erétil, acorda e descobre que está na vida após a morte.

Mas quando ela é informada pelo arquiteto e projetista Michael (Ted Danson ) que foi selecionada para viver no "Lugar Bom" porque ajudou a tirar muitos inocentes do corredor da morte, ela percebe alguma coisa está errada, pois as pessoas a estão confundindo com outra mulher de mesmo nome. Agora ela precisa fingir ser a Eleanor que deveria estar ali e, ao mesmo tempo, se tornar verdadeiramente uma boa pessoa para merecer ficar no “Lugar Bom”, sob pena de ser desmascarada e levada para o “Lugar Ruim”.

As coisas podem ficar ainda mais complicadas porque a sua presença no "Lugar Bom" começa a causar problemas, como uma série de “falhas no sistema”, que se manifestam quando Eleanor se comporta de maneira egoísta ou mesquinha. Esses problemas logo chamam a atenção de Michael, que inicia uma investigação com a assistência de Janet, um tipo de sistema operacional absurdamente desenvolvimento que contém todo o conhecimento do universo e tem capacidade de prover os habitantes do “Lugar Bom” de qualquer demanda que eles venham a ter: roupas, livros, comidas específicas, como... sei lá, frango xadrez e vinho chileno.

Aliás, o “Lugar Bom” projetado por Michael parece uma pequena vila europeia, mas com muitos estabelecimentos de Frozen Yogurt (?!) na praça central. Todos moram próximos uns dos outros, em casas construídas de acordo com os gostos de cada morador. O dia é sempre ensolarado, as noites são de céu limpo. Não há chuva ou mesmo tempo nublado no “Lugar Bom”. Ou neve, ou muito vento. Também não há necessidade de carros porque todos conseguem chegar a qualquer lugar a pé e também porque a todos será possível, no seu devido tempo (uns mil anos, mais ou menos...) aprender a voar. Quer dizer, é um lugar que se propõe perfeito para receber pessoas que, sabemos, por mais bondosas que tenham sido em vida, são imperfeitas...

Mas todo mundo anda por aí feliz e satisfeito, como se estivessem tomando doses cavalares de prozac. Mas a razão de tanta felicidade pode ser também porque no “Lugar Bom” você sempre encontra a sua alma gêmea. E isso traz mais um problema a Eleanor quando ela é apresentada à sua suposta alma gêmea: Chidi, o inseguro e corretíssimo professor universitário de filosofia, moral e ética. Temos então os elementos que se combinam para nos oferecer uma comédia de fantasia que se aproveita de questões universais e atemporais sobre a morte e a possibilidade de uma vida pós-morte para trazer, com humor e leveza, uma reflexão sobre a vida e a condição humana.

“The Good Place” vai nos mostrar o esforço de uma mulher que em vida foi medíocre, egoísta e invejosa em se regenerar. De início, seus motivos são igualmente egoístas: ela quer evitar uma eternidade de sofrimentos no “Lugar Ruim” (e essa motivação inicial de Eleanor é responsável por boa parte das cenas cômicas que ela cria). Mas, aos poucos, Eleanor se percebe praticando boas ações de modo desinteressado, pensando sinceramente no outro, e criando vínculos afetivos com as pessoas. E o interessante é que o aprendizado dela não é como um gráfico com a seta apontando para cima o tempo todo. Ela vacila, diz besteiras, pensa em tirar proveito de determinadas situações...  Mas também demonstra uma grande vontade de aprender a ser alguém moralmente melhor. E então vamos entendendo que Eleanor não é uma pessoa extremamente ruim. Nem extremamente boa. Ela é humana, somente. Não é (ou foi) das melhores, não, verdade. Mas, ainda assim.


E é a partir dessa dimensão humana de Eleanor que a série faz uma crítica importante a essa tendência que muitas vezes temos de “polarizar” pessoas como “boas” ou “más”. “The Good Place” também nos mostra como a amizade pode ser um valioso motivador na busca da melhor versão de nós mesmos. Os vínculos afetivos que ela estabelece são fundamentais na sua regeneração, pois quando ela começa a perceber que se importa com o bem-estar de outras pessoas (principalmente Chidi, o primeiro a tornar-se cúmplice no fingimento de Eleanor), começa também a parar de pensar apenas em si mesma.

“The Good Place” é uma ótima pedida para você relaxar um pouco e rir muito, seja sozinho, com a família, o namorado ou namorada... Porque você não vai apenas se entreter, você vai se entreter com um material que trabalha com um humor inteligente e que te convida a refletir um pouco sobre o que é importante nesta vida em que estamos agora, neste momento.

--------

Abaixo você confere o link para o trailer de "Good Place".