“Circle” é um filme de roteiro tão bom, mas tão bom,
que se sustenta praticamente sozinho: personagens em pé, formando um circulo
dentro de outro, numa sala escura, discutindo e escolhendo o próximo entre eles
que irá morrer.
E que critérios seguir para decidir vida e morte de
alguém? Idade? Caráter? Profissão? Raça? Religião? Se tem família? “Circle” se
desenrola em cerca de uma hora e vinte minutos refletindo acerca de questões deste
tipo. Estas pessoas estão confinadas em um espaço pequeno, estranho, presas por
algo ou alguém que desconhecem (a suspeita que paira entre eles é a que de
seriam alienígenas conduzindo algum tipo de experimento). Nestas condições,
quais são os limites do nosso instinto de sobrevivência? Quão longe é possível
sustentarem-se nossos valores morais?
“Circle” provoca os limites destas pessoas que parecem
ter sido escolhidas ao acaso. Sobrevivência torna-se o único princípio que se
sustenta. E que se busca. A qualquer custo? Possivelmente. E o mais curioso é
que nos duros diálogos que se seguem, morte após morte, podemos nos colocar
ali, dentro daquele círculo e nos perguntar: “Se eu estivesse ali, como me comportaria?
Eu seria capaz de me sacrificar pela possibilidade de sobrevivência de uma
jovem grávida que não conheço? Ou de uma menina que nunca vi? Ou será que eu
não teria escrúpulos em sugerir que os mais velhos fossem mortos primeiro? Afinal,
até onde uso o princípio “dois pesos, duas medidas” sem nem ao menos perceber?”.
O final é surpreendente, apesar de explicar mais do
que poderia, e, explicando, deveria ter esclarecido mais do que o fez. O ponto
é: se for para manter determinadas perguntas sem respostas, melhor não
responder pela metade ou de um jeito torto. Mas se for explicar, por favor,
faça direito. E pela proposta do roteiro, acredito que esclarecimentos acerca
de uma série de questões levantadas pelas pessoas em cativeiro não
necessariamente precisariam ser dados, pois o foco está no que é conversado
dentro daquele espaço fechado, entre aquelas pessoas submetidas a uma situação
limite.
“Circle” é um filme perturbador, que não te tira da
zona de conforto; te expulsa de lá com um pé na bunda. Não assista se você
chegou em casa cansado, se teve um dia ruim ou se está se sentindo triste... Mas
assista. Respire fundo e assista.