domingo, 23 de julho de 2017

Um filme cujas perguntas não precisam de respostas

Direção e roteiro de  Aaron Hann e Mario Miscione (2015) 


“Circle” é um filme de roteiro tão bom, mas tão bom, que se sustenta praticamente sozinho: personagens em pé, formando um circulo dentro de outro, numa sala escura, discutindo e escolhendo o próximo entre eles que irá morrer.

E que critérios seguir para decidir vida e morte de alguém? Idade? Caráter? Profissão? Raça? Religião? Se tem família? “Circle” se desenrola em cerca de uma hora e vinte minutos refletindo acerca de questões deste tipo. Estas pessoas estão confinadas em um espaço pequeno, estranho, presas por algo ou alguém que desconhecem (a suspeita que paira entre eles é a que de seriam alienígenas conduzindo algum tipo de experimento). Nestas condições, quais são os limites do nosso instinto de sobrevivência? Quão longe é possível sustentarem-se nossos valores morais?


“Circle” provoca os limites destas pessoas que parecem ter sido escolhidas ao acaso. Sobrevivência torna-se o único princípio que se sustenta. E que se busca. A qualquer custo? Possivelmente. E o mais curioso é que nos duros diálogos que se seguem, morte após morte, podemos nos colocar ali, dentro daquele círculo e nos perguntar: “Se eu estivesse ali, como me comportaria? Eu seria capaz de me sacrificar pela possibilidade de sobrevivência de uma jovem grávida que não conheço? Ou de uma menina que nunca vi? Ou será que eu não teria escrúpulos em sugerir que os mais velhos fossem mortos primeiro? Afinal, até onde uso o princípio “dois pesos, duas medidas” sem nem ao menos perceber?”.


O final é surpreendente, apesar de explicar mais do que poderia, e, explicando, deveria ter esclarecido mais do que o fez. O ponto é: se for para manter determinadas perguntas sem respostas, melhor não responder pela metade ou de um jeito torto. Mas se for explicar, por favor, faça direito. E pela proposta do roteiro, acredito que esclarecimentos acerca de uma série de questões levantadas pelas pessoas em cativeiro não necessariamente precisariam ser dados, pois o foco está no que é conversado dentro daquele espaço fechado, entre aquelas pessoas submetidas a uma situação limite.

“Circle” é um filme perturbador, que não te tira da zona de conforto; te expulsa de lá com um pé na bunda. Não assista se você chegou em casa cansado, se teve um dia ruim ou se está se sentindo triste... Mas assista. Respire fundo e assista.