segunda-feira, 2 de outubro de 2017

"The Good Place" e as polarizações do humano





Criada por Michael Schur

Com Kristen Bell e Ted Danson

Olá, queridxs!

Até agora venho trazendo aqui meus olhares sobre filmes não necessariamente Blockbusters e não necessariamente hollywoodianos e pretendo, futuramente, abrir mais ainda este leque no que concerne aos filmes estrangeiros (pensando em alguns... Sugestões? Só os do Almodóvar fariam uma lista de pirar os neurônios! Os filmes dele são muito conhecidos, mas acredito que há toda uma nova geração que ainda não teve o inquieto prazer de assistir esse material).

Mas o assunto de hoje não é o Almodóvar, não são filmes estrangeiros. São séries. Mais precisamente uma série que me chamou muito a atenção semana passada (tanto que já detonei a primeira temporada, sem pena). Porque foi aquela série que ninguém me recomendou, eu não estava procurando nada para escrever sobre, estava apenas procurando na Netflix o que assistir mesmo. Mas a mão coçou e pediu para que The Good Place ganhasse um post e inaugurasse as postagens sobre séries.

(Temos aqui quase nenhum spoiller, ok? Prometo. E é tudo coisa que aparece logo no piloto e no segundo episódio).

The Good Place foi/é produzida por Michael Schur e estreou pela NBC em setembro de 2016. No Brasil e em Portugal as temporadas 1 e 2 estrearam simultaneamente na Netflix neste dia 21 de setembro, com novos episódios semanalmente.

Depois que Eleonor Shellstrop (Kristen Bell) é atingida e morta por um reboque transportando um quadro de avisos com propaganda de produtos para disfunção erétil, acorda e descobre que está na vida após a morte.

Mas quando ela é informada pelo arquiteto e projetista Michael (Ted Danson ) que foi selecionada para viver no "Lugar Bom" porque ajudou a tirar muitos inocentes do corredor da morte, ela percebe alguma coisa está errada, pois as pessoas a estão confundindo com outra mulher de mesmo nome. Agora ela precisa fingir ser a Eleanor que deveria estar ali e, ao mesmo tempo, se tornar verdadeiramente uma boa pessoa para merecer ficar no “Lugar Bom”, sob pena de ser desmascarada e levada para o “Lugar Ruim”.

As coisas podem ficar ainda mais complicadas porque a sua presença no "Lugar Bom" começa a causar problemas, como uma série de “falhas no sistema”, que se manifestam quando Eleanor se comporta de maneira egoísta ou mesquinha. Esses problemas logo chamam a atenção de Michael, que inicia uma investigação com a assistência de Janet, um tipo de sistema operacional absurdamente desenvolvimento que contém todo o conhecimento do universo e tem capacidade de prover os habitantes do “Lugar Bom” de qualquer demanda que eles venham a ter: roupas, livros, comidas específicas, como... sei lá, frango xadrez e vinho chileno.

Aliás, o “Lugar Bom” projetado por Michael parece uma pequena vila europeia, mas com muitos estabelecimentos de Frozen Yogurt (?!) na praça central. Todos moram próximos uns dos outros, em casas construídas de acordo com os gostos de cada morador. O dia é sempre ensolarado, as noites são de céu limpo. Não há chuva ou mesmo tempo nublado no “Lugar Bom”. Ou neve, ou muito vento. Também não há necessidade de carros porque todos conseguem chegar a qualquer lugar a pé e também porque a todos será possível, no seu devido tempo (uns mil anos, mais ou menos...) aprender a voar. Quer dizer, é um lugar que se propõe perfeito para receber pessoas que, sabemos, por mais bondosas que tenham sido em vida, são imperfeitas...

Mas todo mundo anda por aí feliz e satisfeito, como se estivessem tomando doses cavalares de prozac. Mas a razão de tanta felicidade pode ser também porque no “Lugar Bom” você sempre encontra a sua alma gêmea. E isso traz mais um problema a Eleanor quando ela é apresentada à sua suposta alma gêmea: Chidi, o inseguro e corretíssimo professor universitário de filosofia, moral e ética. Temos então os elementos que se combinam para nos oferecer uma comédia de fantasia que se aproveita de questões universais e atemporais sobre a morte e a possibilidade de uma vida pós-morte para trazer, com humor e leveza, uma reflexão sobre a vida e a condição humana.

“The Good Place” vai nos mostrar o esforço de uma mulher que em vida foi medíocre, egoísta e invejosa em se regenerar. De início, seus motivos são igualmente egoístas: ela quer evitar uma eternidade de sofrimentos no “Lugar Ruim” (e essa motivação inicial de Eleanor é responsável por boa parte das cenas cômicas que ela cria). Mas, aos poucos, Eleanor se percebe praticando boas ações de modo desinteressado, pensando sinceramente no outro, e criando vínculos afetivos com as pessoas. E o interessante é que o aprendizado dela não é como um gráfico com a seta apontando para cima o tempo todo. Ela vacila, diz besteiras, pensa em tirar proveito de determinadas situações...  Mas também demonstra uma grande vontade de aprender a ser alguém moralmente melhor. E então vamos entendendo que Eleanor não é uma pessoa extremamente ruim. Nem extremamente boa. Ela é humana, somente. Não é (ou foi) das melhores, não, verdade. Mas, ainda assim.


E é a partir dessa dimensão humana de Eleanor que a série faz uma crítica importante a essa tendência que muitas vezes temos de “polarizar” pessoas como “boas” ou “más”. “The Good Place” também nos mostra como a amizade pode ser um valioso motivador na busca da melhor versão de nós mesmos. Os vínculos afetivos que ela estabelece são fundamentais na sua regeneração, pois quando ela começa a perceber que se importa com o bem-estar de outras pessoas (principalmente Chidi, o primeiro a tornar-se cúmplice no fingimento de Eleanor), começa também a parar de pensar apenas em si mesma.

“The Good Place” é uma ótima pedida para você relaxar um pouco e rir muito, seja sozinho, com a família, o namorado ou namorada... Porque você não vai apenas se entreter, você vai se entreter com um material que trabalha com um humor inteligente e que te convida a refletir um pouco sobre o que é importante nesta vida em que estamos agora, neste momento.

--------

Abaixo você confere o link para o trailer de "Good Place".