segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

De volta, e com "Rebecca"

Olá, querid@s! Estou de volta neste começo de 2019 e com pretensões que produzir mais conteudo e ficar mais tempo por aqui. Toda essa ausencia se deu porque eu estive participando de um seleção para um curso de doutorado, e passei, o que é incrivel! Então vieram as eleições e tudo ficou meio confuso e dificil... (Não que agora esteja fácil, maaaaas... A gente recupera o fôlego e prossegue, né?)

Hoje deixo vocês com uma pérola de Alfred Hitchcock, a minha preferida, na realidade. Você encontra esse filme completo no youtube, legendando (talvez tenha dublado também, não tenho certeza).


Eternizado como mestre do suspende, Alfred Hitchcock deixou cerca de 60 obras fílmicas. Seu nome e filmografia são conhecidos, respeitados e admirados entre cinéfilos e estudiosos de cinema em todo o mundo. Aulas, palestras e seminários utilizam cenas de suas obras  para discorrer sobre os elementos da linguagem cinematográfica clássica.

Rebecca, uma mulher inesquecível (1940)

Rebecca é um dos filmes mais intrigantes de Hitchcock, baseado no romance inglês homônimo de Daphne du Maurier, que foi publicado em 1938. É uma obra fílmica extraordinária pelo atravessamento de uma personagem cuja ausência física garante a presença mais intensa. Mais da metade da trama acontece na imensa propriedade que expõem as marcas, os traços e pertences desta fascinante e controversa mulher.

Aqui vemos uma forma muito interessante de se trabalhar o paradoxo da “presença da falta”. Ou seja, o elemento ausente no filme, é, na realidade, o mais presente, e aquele do qual mais se fala. E para ressaltar isso, temos uma garota que se casa com Maxim Winter, o viúvo de Rebecca, mas que não tem nome. A garota se muda com o marido para a referida propriedade, como a nova e legítima Senhora da casa, mas ninguém sabe o seu nome, nem mesmo o espectador. Vale ressaltar que o nome é um elemento muito importante em psicanálise, pois ele é basicamente a primeira inscrição que recebemos ao nascer (muitas vezes antes, ainda no ventre materno).

Para a jovem Sra. de Winter, Rebecca não era apenas uma mulher; ela era a mulher. Se, por um lado, a moça enxergava-se como a imagem simétrica e invertida da ex-esposa de Maxim, por outro, almejava ser como ela. Essa especularidade é particularmente nítida no jogo que Hitchcock estabelece entre os quartos das duas mulheres. Enquanto o da jovem esposa situa-se na ala leste e quase nunca era usado, o da ex-mulher fica na ala oeste e não o é mais. Além disso, o quarto de Rebecca, nas palavras da Sra. Danvers, é o “mais bonito da casa, o único de onde se pode ver o mar”. E essa sala de espelhos tem outro ângulo, ainda mais inusitado. Enquanto a câmera foca a jovem Sra. de Winter ao longo de quase todo o filme, seu nome nunca é dito. Ela permanece anônima. Em contrapartida, jamais vemos imagens de Rebecca, mas ela é falada o tempo todo (WEINMANN, 2016, p. 63).


A memória de Rebecca parece também perturbar Maxim, o viúvo recém-casado, mas enquanto a garota se sente incomodada, insegura e nervosa, o homem parece carregar um grande pesar no olhar, algo de angústia e de culpa, que aos poucos vamos compreendendo. Quando o corpo de Rebecca aparece preso a uma embarcação naufragada a trama ganha novo ritmo e a jovem Sra. Winter começa a se apropriar da função de mulher e de esposa que recebeu em seu matrimônio. 


Há publicações que afirmam que Hitchcock criticava a psicanálise em suas obras fílmicas, mas parece muito mais que o diretor utilizava este conhecimento teórico (o qual, em seus filmes, ele demonstrava ter uma leitura considerável) como material e, em alguns casos, este material se manifestava de maneira debochada. Em outros, constituía um mote para engendrados e densos enredos de mistério e suspense (caso de Rebecca).

Com relação ao deboche, fenômeno semelhante acontecia com as figuras de autoridade em seus filmes (policiais e médicos, especialmente), que comumente manifestavam brutalidade, inocência, ou mesmo caráter duvidoso, assim como as personagens financeiramente mais abastadas. Vale ressaltar que a predominância de tais tipos era masculina... 

O mestre do suspense colocava estas figuras de autoridade em situações embaraçosas ou constrangedoras: a polícia nunca descobria o assassino, e o médico geralmente era o culpado, dava diagnósticos errados, ou enganava pessoas se aproveitando da credibilidade da profissão. É possível que ele também gostasse de “constranger” a psicanálise, refazê-la de modo pasteurizado, como uma tradução daquilo que o público leigo a compreendia. 

Talvez Hitchcock também gostasse de brincar com a ideia que a psicanálise traz, de que não somos completamente donos de nossas escolhas, que existe uma instância poderosa a qual não temos acesso, e que luta para satisfazer desejos que não compreendemos. 
Mas que é parte de nós. E fala por nós. Mesmo quando tentamos silenciar.


Referencias e sugestões de leituras

WEINMANN, Amadeu de Oliveira. A enunciação da feminilidade em Rebecca, de Hitchcock. Trivium-Estudos Interdisciplinares, v. 8, n. 1, p. 60-73, 2016.
MACHADO, Arlindo. O sujeito na tela: modos de enunciação no cinema e no ciberespaço. Paulus, 2007.
MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica; tradução Paulo Neves; revisão técnica Sheila Schvartman. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2003.
SPOTO, Donald. Fascinado pela beleza: Alfred Hitchcock e suas atrizes. Trad. Mário Ribeiro e Sheila Mazzolenis. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008.


2 comentários:

  1. Respostas
    1. Marroia! :) Eu sei uma aula sobre suspense no cinema usando esse filme. Pessoal é tudo louco por Psicose e Janela Indiscreta, mas tem uns filmes do Hitchcock que são pouco conhecidos, e você assiste e fica... O.O

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